- se me fiz independente, foi às custas de te ser distante.
as mãos se tocavam por cima da mesa pequena da cozinha escura. era sexta-feira e, como chovia muito, faltava luz. ela até encontrava meia vela esquecida na gaveta de talheres, tateava os fósforos às cegas e sentava, palito em mãos. mas de repente a falta de luz, de som da tevê, tudo parecia muito confortável. ele pegava sua mão em um gesto antigo já meio esquecido, quase desajeitado. então a obrigação do jantar, os amigos esperando, tudo ficava menos urgente. e os barulhos de fora, trânsito, chuva, ambulância, aumentavam ainda o silêncio na cozinha pequena do apartamento quitinete de preço exorbitante mas muito bem localizado na zona sul. e depois do tempo passado, tempo que nem foi medido em minutos ou horas, mas tempo tátil da sensação morna do toque da mão na outra, depois, aquilo.
.
agora ela despertava daquele semi-transe para encontrar os olhos do outro. olhos que na penumbra pareciam claros como nunca antes e foi como se cruzassem, os dois pares, pela primeira vez. e voltavam coisas que já pareciam mortas, inquietude, estranhamento, amor.
- se me fiz personagem é porque escondo em fatos pitorescos e óculos interessantes o medo de mostrar quem sou. pois se me sinto é pequena, ridícula e já não encontro saída entre tanto ornamento e certo verniz.
a luz se acendia e os punha de pé, em sobressalto.
e de novo aquela pressa, os amigos, a tevê. e se arrumavam sem palavra, cuidadosamente mal vestidos. e ela pegava a bolsa, desligava a televisão e falava de novo, pela primeira vez.
-amor, faz frio lá fora, não esquece o cachecol.
as mãos se tocavam por cima da mesa pequena da cozinha escura. era sexta-feira e, como chovia muito, faltava luz. ela até encontrava meia vela esquecida na gaveta de talheres, tateava os fósforos às cegas e sentava, palito em mãos. mas de repente a falta de luz, de som da tevê, tudo parecia muito confortável. ele pegava sua mão em um gesto antigo já meio esquecido, quase desajeitado. então a obrigação do jantar, os amigos esperando, tudo ficava menos urgente. e os barulhos de fora, trânsito, chuva, ambulância, aumentavam ainda o silêncio na cozinha pequena do apartamento quitinete de preço exorbitante mas muito bem localizado na zona sul. e depois do tempo passado, tempo que nem foi medido em minutos ou horas, mas tempo tátil da sensação morna do toque da mão na outra, depois, aquilo.
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agora ela despertava daquele semi-transe para encontrar os olhos do outro. olhos que na penumbra pareciam claros como nunca antes e foi como se cruzassem, os dois pares, pela primeira vez. e voltavam coisas que já pareciam mortas, inquietude, estranhamento, amor.
- se me fiz personagem é porque escondo em fatos pitorescos e óculos interessantes o medo de mostrar quem sou. pois se me sinto é pequena, ridícula e já não encontro saída entre tanto ornamento e certo verniz.
a luz se acendia e os punha de pé, em sobressalto.
e de novo aquela pressa, os amigos, a tevê. e se arrumavam sem palavra, cuidadosamente mal vestidos. e ela pegava a bolsa, desligava a televisão e falava de novo, pela primeira vez.
-amor, faz frio lá fora, não esquece o cachecol.
Marcadores: amor, casal, cidade, cozinha, independente, jantar, silêncio, trânsito
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